São Paulo, segunda-feira, 27 de abril de 2009
Visão Crítica
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Profissão Político
Como dizia Nelson
Rodrigues, um turista que passasse pelo Congresso Nacional nos dias que correm
escreveria no seu caderninho: “O brasileiro é um lorpa, um pascácio”. De outra
forma, como explicar os abusos de deputados e senadores com tudo o que está ao
seu alcance e que com os nossos votos se perpetuam ? O jornalista Luiz Garcia
acha que suas excelências confundem subsídios com salários e mandato com
emprego. Também acho, e vou além: política é profissão neste Brasilzão de meu
Deus. Não precisa ter formação específica, basta simpatia, lábia, algum carisma
e umas posições aparentemente firmes sobre assuntos determinados que estão na
pauta do dia desde há muito. Aborto, casamento gay, pena de morte, liberação da
maconha, por aí.
A depender do perfil do político, ou política, pode ser favorável a tudo,
contrário a tudo, um pouco contra e um pouco a favor, até mesmo não ter opinião
formada e sair de metamorfose ambulante, como o Lula prefere. Essencial é fazer
da política emprego fixo. A maioria começa no município, na vereança, parte para
o nível estadual na Assembléia Legislativa, federal, na Câmara e chega ao Senado
geralmente depois de ser governador.
Há uma sutileza que convém lembrar sempre: vereadores e deputados são eleitos em
eleição proporcional, enquanto senadores são eleitos em eleições majoritárias. O
finado Roberto Campos me disse que sempre se elegeu deputado federal com 50 mil
votos, sem subir num palanque, sem praticamente sair de casa. O partido o
carregava nos ombros, até que resolveu lançá-lo ao Senado, em 1998: “Tive dois
milhões de votos e perdi por 300 mil”, lembrou, sem muita amargura, na despedida
do mandato de deputado federal.
Com o tempo, e sem arriscar à toa, o cidadão, ou cidadã, constroi carreira
política em Brasília, nem que seja no baixo clero, e fica por lá 40 anos, sem
ninguém dar por ele, ou por ela. Vira zumbi pelos corredores e salões, sorrindo
e cumprimentando todo mundo com o mesmo ar de quem não sabe direito o que
acontece em volta. Severino Cavalcanti foi o expoente desse espécime bastante
comum na Câmara. No Senado o buraco é mais embaixo, até a viúva do Jefferson
Peres, entre uma lágrima e outra, pediu os R$ 118 mil que ele não usou da cota
de passagens aéreas. E Wellington Salgado já avisou que não disputará eleição
ano que vem, vai ser suplente de novo, que sai muito mais em conta.
Se é esse tipo de raciocínio que vigora nas duas Casas do Poder Legislativo,
como se poderia esperar outro comportamento do Gabeira? Por que ele seria a
vestal no meio da zona? Chico Alencar e Luciana Genro, também dissidentes
petistas, doaram passagens para viagens a Brasília, no interesse partidário. Já
o deputado carioca de coração deu passagem para a filha visitar a irmã no Havaí.
Tudo bem que ele assumiu o erro e se desculpou, mas depois dessa mancada deve
reavaliar a hipótese de concorrer ao Senado no ano que vem.
Para melhor
esclarecimento, reproduzo o Moderno Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa:
“lorpa lor.pa (ô) adj e s m+f 1 Que, ou pessoa que é imbecil, parva, pateta. 2
Que, ou pessoa que é boçal, grosseira, estúpida – pascácio pas.cá.cio sm (cast
pascasio) pop Lorpa, tolo; homem muito simplório”. Alguém se habilita?
[email protected]
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Luiz Augusto Gollo é jornalista e
escritor, escreve nesta coluna aos sábados
e mantém o
Blog Visão Crítica
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