Filhos
de BG
Pedro B. Guimarães
Horácio Guimarães
Afonso Guimarães
Netos
Alphonsus de Guimaraens
(sobrinho)
José Guimarães Alves
Armelim Bernardo Guimarães
Bisnetos
Alphonsus de Guimaraens Filho (sobrinho)
Mª Ap. Guimarães A.
Palma [Mariah]
Isabel Teresa
Guimarães Alves
Lívia Alves Guimarães
Rúbio Gama Alves
Trinetos
Maria Fernanda Alves
Guimarães
André Nigri
João Bernardo Guimarães
Juliana Rennó Bernardo Guimarães
Marcelo Guimarães
Parentesco dos Guimarães
com os Guimaraens
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Depoimento de
descendente
José Armelim Bernardo
Guimarães (1915-2004), neto
Nasci
em Itajubá, MG, em 6 de março de 1915. Sou filho de Pedro
Bernardo Guimarães, o último filho do romancista e poeta Bernardo
Guimarães. Sempre fui um fascinado admirador de meu avô paterno, do qual muito
me envaideço de descender, encantado com sua vida inteiramente consagrada à arte
literária, com seu talento criativo e seu devotamento a Minas Gerais e ao Brasil,
e ainda com seu temperamento do homem desambicioso, inimigo e fugitivo de
gloriolas sociais, da pabulagem e da sofomania, mas um genial enamorado da
natureza, um entusiasta do viver simples do sertanejo, um escravo da estesia, um
boêmio sui generis, à moda d'ele...
Lamento que Bernardo Guimarães vem sendo, até
hoje, um incompreendido. De criticastros incapazes, de cronistas a quo em assuntos
de letras e de mérito literário, de comentaristas picarescos que lançam mão de
histrionices e ricularias pretendendo falsificar a personalidade do grande
romancista, poeta e jornalista ouro-pretano, de todos esses zoilos medíocres e
incompetentes publicistas meu avô tem sido vítima.
Não é verdade, como querem tais chalaceiros, que
Bernardo Guimarães tenha sido um ébrio inveterado. Se, quando acadêmico, na
Paulicéia, participou de algumas libações excessivas na companhia de colegas do
curso jurídico, posteriormente, no entanto, sobretudo quando já casado, foi um
moderado em bebidas. Se gostava de um bom vinho à mesa, não significa isso que
tenha sido um borracho habitual. É o que assegurava minha saudosa avó, Teresa
Gomes de Lima Guimarães, falecida em 1934, quando tinha eu 19 anos de idade. Ela
veemente protestava contra as lendas inventadas pelos que tentam denegrir a
memória do famoso escritor mineiro, atribuindo-lhe um viver de esbórnias até o
final de seus dias!
Com respeito ao romance A Escrava Isaura, surge uma
acusação de críticos que chega a tocar as raias da estupidez! Quer parvoíce de
alguns analistas improvisados que Bernardo Guimarães tenha sido um racista,
porque Isaura é branca... É óbvio que, se Bernardo houvesse imaginado uma
escrava crioula, jamais o seu romance, escrito em pleno regime da escravidão,
teria alcançado o estrondoso sucesso que teve, ainda hoje lido e admirado, o
campeão em número de edições entre todos
os romances brasileiros, e teria sido frustrada a campanha abolicionista do autor.
Quem ler esse livro imortal, encontrará o repúdio
de Bernardo pela discriminação do negro e o cativeiro imposto aos nossos irmãos
de cor. Quando faleceu seu íntimo amigo negro, o escravo Ambrósio, ele compôs o
poema À Sepultura de um Escravo, que foi incluído no volume Cantos da Solidão.
Veja-se ainda o Hino à Lei de 28 de setembro de
1871 (Lei do Ventre Livre), incluído no volume Folhas de Outono, que também não
é obra de um racista.
Outras injustiças Bernardo Guimarães tem sofrido.
Entre essas outras, a preterição de sua profecia de Brasília. Querem que tenha
sido São João Bosco quem primeiro teve uma visão da nova capital no planalto central do Brasil. É engano. É desconhecer a obra
poética do vate de Ouro Preto! Foi Bernardo Guimarães quem previu a construção
de Brasília no sertão goiano, que ele bem conheceu, e onde foi Juiz Municipal,
muito antes das visões do piedoso salesiano.
O poema O Ermo, que figura
no volume Cantos da Solidão, é a miragem surgida aos olhos do poeta, em que viu
aquelas matas e incultos campos transformados na grande urbe planáltica, como
conta neste trecho:
"Mas, não te queixes, musa; são decretos;
Da eterna Providência irrevogáveis!
Deixa passar a destruição e morte
Nessas risonhas e fecundas plagas,
Como charrua, que revolve a terra,
Onde germinam do porvir os frutos.
O homem fraco ainda, e que hoje a custo,
Da criação a obra mutilando,,
Sem nada produzir destrói apenas,
Ananhã criará, sua mão potente,
Que doma e sobrepuja a natureza,
Há de imprimir um dia forma nova
Na face deste solo imenso e belo;
Tempo virá que nessa valada
Onde flutua a coma da floresta,
Linda cidade surja, branquejando
Como um bando de garças na planície;
E em lugar desse brando rumorejo
Aí murmurará a voz de um povo,
Essas encostas broncas e sombrias
Serão risonhos parques suntuosos;
E, esses rios que vão, que vão por entre sombras
Ondas caudais serenos, resvalando,
Em vez do tope escuro das florestas,
Refletindo no límpido regaço,
Torres, palácios, coruchéus brilhantes,
Zimbórios majestosos e castelos
De bastiões sombrios coroados,
Esses bulcões da guerra, que do seio
Com horrendo fragor raios despejam,
Rasgar-se-ão dos vales os abismos;
Mil estradas, qual vasto labirinto,
Cruzar-se-ão por montes e planuras;
Curvar-se-ão os rios sob arcadas
De pontes colossais; canais imensos
Virão sulcar as faces das campinas..."
Em 1985, sob o título de "E Assim Nasceu a
Escrava Isaura", publiquei uma biografia de Bernardo Guimarães pela imprensa
do Senado Federal. Infelizmente, foi uma edição com muitos e lamentáveis erros
tipográficos, omissões e trocas de palavras. Tenho pronto, e ainda inédito,
elaborado com mais amplo material informativo e ilustrações. São 352 páginas
datilografadas, à espera de um editor... Uma biografia mais alentada, em que
saliento o Bernardo incompreendido, injuriado, esquecido, ignorado, preterido...
José Armelim Bernardo Guimarães - Itajubá, MG,
julho de 1998 |