Medicina
Árabe
Nos
primeiros cinco séculos da Era Cristã, o Grande Império Romano foi
desmembrado, devastado, despovoado e invadido. Mas as cisões, as guerras, as
epidemias e as hordas bárbaras não foram os únicos desastres que abalaram o
Império. O dogmatismo e o sentimento anti-helenista da Igreja Católica, se não
foi o fator mais importante, foi sem dúvida alguma, essencial e desencadeante
para a destruição não só do Império, mas também da cultura européia.
Com
o conjunto de todos estes fatores se observou a perda da maior parte dos textos
gregos e romanos, que migraram para a Pérsia, nas mãos dos cristãos
netorianos, dos gregos pagãos, dos judeus e por fim dos persas helenizados,
todos perseguidos pela intolerância religiosa.
E
foi no tão distante Oriente Médio, que encontraram abrigo, foi no crescente fértil
que a cultura européia encontrou berço seguro, e floresceu. Foi o respeito e a
admiração pela sabedoria que levou os conquistadores árabes à se tornarem a
pedra fundamental do conhecimento greco-romano por vários séculos. No entanto
a ciência não só foi compilada, mas também acrescentada de conhecimento.
Há
aqueles que digam, que os árabes apenas serviram de veículo, onde o
conhecimento europeu foi primeiro guardado, e depois devolvido aos europeus, sem
acréscimo algum. No entanto, com um estudo mesmo que superficial da história
da medicina árabe, percebemos o erro crasso cometido por estes.
Se
utilizaram freqüentemente da anestesia, colocando uma esponja empapada com uma
droga hipnótica nas narinas do paciente. Desenvolveram métodos de extração,
técnicas de destilação e cristalização, que possibilitaram o estudo e
desenvolvimento de medicamentos até então desconhecidos, além de serem
essenciais à formação da farmácia e da química. Um dos maiores químicos da
época foi o médico al-Razi (Rhazes), que pode ser considerado pai da iatroquímica.
al-Razi
não foi apenas químico, mas também clínico fantástico, realizou a primeira
descrição do sarampo e da varíola, descrições encontradas entre os poucos
textos seus que não foram perdidos. Escreveu 273 textos originais, sobre
diversos temas, indo da alquimia à ética, passando pela anatomia, fisiologia e
cirurgia, entre outros. Todos de clareza impressionante, autor de "al-Hawi",
onde sintetizou o conhecimento clínico e cirúrgico da época.
Mas
al-Razi, não foi o único grande autor árabe, Ibn Sina (Avicena) aos 21 anos já
havia escrito uma enciclopédia científica. Entre os seus quase 100 textos
originais, dos quais o principal foi o livro "al-Qanun" ("Cânone"),
está a base da ciência, que por séculos foi traduzida e esmiuçada por
mestres, estudantes, médicos e práticos. Até meados do século XVII as
universidades cristãs se basearam em seus textos. Ibn Sina foi quem melhor
descreveu a tuberculose, além de desvendar o seu caracter contagioso,
desenvolvendo os princípios da Saúde Pública.
Mas
os textos greco-romanos, não eram aceitos de olhos fechados, Ibn Zuhn (Avenzoar)
rechaçou Aristóteles e Galeno, entre outros. Em seus textos, observa-se grande
talento clínico com a descrição acurada da sarna e da pericardite; além de
cirurgião experiente, com o desenvolvimento da traqueotomia, mostrada em textos
e desenhos.
Outro
grande cirurgião foi al-Zahrawi (Albucassis), que descreveu o uso da cauterização,
além de desenvolver vários temas de anatomia e técnica cirúrgica. "al-Tasrif",
seu livro mais importante foi o primeiro sistemático e ilustrado livro de
cirurgia.
O
contágio pelas roupas sujas nas pestes que dominaram o mundo naquele período
foi descrito por Ibn al-Khatib e Dawud al-Antaki, desenvolvendo um acurado
sistema de saúde pública.