Presidente Prudente, domingo, 20 de março de 2005 - O IMPARCIAL - CIDADES
UM MUNDO
DIFERENTE
PP tem mais deficiente que a média de SP
Mais de 5.800 pessoas
lutam contra barreiras da arquitetura
e da conquista de emprego, mostra dado da Assistência Social
JULIANA COISSI REPORTAGEM LOCAL
Um levantamento da Assistência
Social do Estado de São Paulo revelou dados importantes que alertam o poder público
e a sociedade prudentina a voltar os olhos para os portadores de deficiência.
Presidente Prudente tem um índice
maior de deficientes físicos,
visuais e auditivos que a média do Estado de São Paulo.
Há na cidade 5.835 cidadãos que lutam contra as barreiras da arquitetura, da
falta de emprego e do preconceito.
Conforme a Organização Mundial da Saúde, 10% da população apresenta algum
tipo de deficiência. São
2.249 deficientes visuais em Prudente,
o que corresponde a 4,1%
do total da população – média
maior que a do Estado (3,3%).
Deficientes auditivos totalizam 1.101, uma média de 2% - a estadual é de 1,6%.
A porcentagem de deficientes físicos (locomoção) chega a 4,5%, com número
absoluto de 2.485 – o índice de São Paulo é de 3,8%.
Os dados apresentados referem-se a um levantamento com 54 municípios realizado
pela Divisão Regional de Assistência e Desenvolvimento Social (Drads) do
Estado de São Paulo, baseado em dados da Fundação Seade (Sistema Estadual de
Análise de Dados) e do último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), de 2000.
“Faltam mecanismos” O presidente de Conselho Municipal da Pessoa Portadora
de Deficiência (Condef), Edilson José, surpreendeu-se com os números
apresentados pela pesquisa. “Temos realmente um grande número na cidade, o
que não temos são os mecanismos. O único instrumento vem através do
Condef”, avalia.
O organismo luta na cidade pela garantia dos direitos dos deficientes. Na
quarta-feira, o Condef denunciou que nenhum dos prédios das secretarias
municipais não está totalmente adaptado ao acesso do deficiente físico. A
entidade representa pessoas que lutam pela garantia de direitos simples, como o
de se locomover gratuitamente.
Atualmente, 1.045 deficientes contam com o transporte gratuito na cidade.
Estima-se que outros 900 estão em processo de renovar o cadastro.
Para o promotor de Justiça Luiz Antônio Miguel Ferreira, a pesquisa demonstra
a presença dos deficientes na sociedade. “Isso
implica a necessidade cada vez maior de ações em prol dos deficientes. Dá um
atestado de que eles existem”,
avalia.
Ferreira aponta avanços significativos na lei federal, no ano passado, na
acessibilidade do deficiente. Entre outros aspectos, a lei exige a inclusão de
uma disciplina específica nas faculdades de arquitetura e urbanismo. As mudanças,
lembra o promotor, devem partir também da sociedade. “É
necessário uma mudança de cultura para a inclusão do deficiente, que as
pessoas respeitem não só o deficiente, mas a cidadania dele”.
O promotor destacou algumas das ações do Ministério Público Estadual (MPE)
em Presidente Prudente em prol dos cidadãos deficientes, como a exigência de
adaptação de rampas e outros suportes em prédios de escolas públicas e
particulares e na garantia do transporte gratuito. O MPE entrou com uma ação
contra a Prefeitura para que todas as praças da cidade que possuem banheiro
tenham cabines adaptadas ao portador de deficiência física. Foi instaurado
inquérito civil para que todos os loteamentos novos garantam acessibilidade a
cadeirantes. Recentemente, oficiou a Secretaria de Saúde do Estado para
conhecer as razões do déficit de cadeiras de rodas em Presidente Prudente.
Entidades Representantes de
entidades ligadas aos deficientes
visuais e auditivos
analisaram os números da pesquisa. O vice-presidente da Associação Filantrópica
de Proteção aos Cegos avaliou como elevado o número de 2.249 cegos, que não
refletiria a situação real. Para Lourenço Augusto Thomazoni de Carvalho, de
63 anos, a sociedade ainda está distante do deficiente. “O
deficiente visual é igual a todos, só não enxerga. Ele
não é doente, o que lhe
falta é oportunidade”. A
entidade atende atualmente a 73 cegos e tem sete deles incluídos em empresas da
cidade. Um dos atendidos passou no vestibular e cursa hoje pedagogia.
“Eu acho o número razoável, compatível à realidade”, avaliou a advogada
Eunice Aparecida da Cruz, presidente da Associação dos Amigos dos Deficientes
Auditivos (Apada). Segundo Eunice, a deficiência auditiva possui muitas nuances
e às vezes uma pequena disfunção nem é notada. Em outros casos, os pais
demoram a perceber o problema. “Há o absurdo de crianças com quatro anos sem
diagnóstico e os pais não percebem que elas não escutam”. Atualmente na
entidade funcionam apenas serviços de encaminhamento a especialistas, por falta
de recursos.
Para Cruz, a população prudentina demonstra certo grau de consciência ao
problema do deficiente. “Prudente já teve um certo avanço, temos instituições
sérias que tentam inserir o deficiente no mercado. Mas falta muito ainda na área
médica, faltam dentistas para nos atender”, afirma. Para ela, a principal
barreira do surdo-mudo é a dificuldade de inserção no mercado de trabalho.
A presidente destaca como conquistas na cidade a quebra de barreiras arquitetônicas
e a instalação de fones em alguns locais para surdos-mudos. Mas ainda falta,
principalmente, a aceitação na escola. “Há resistência, porque é uma
questão nova. Mas lutamos para que se consiga introduzir esses deficientes,
para atingir o objetivos da lei”.
Vencer barreiras Para o
portador de deficiência, tão difícil como atravessar ruas é a dificuldade de
ser aceito na escola ou conseguir um trabalho. Luana Menezes da Silva, de 10
anos, é portadora da Síndrome de Strumpell e precisa da cadeira de rodas para
se locomover. Está na 4ª série, em uma sala comum, tentando adaptar-se a uma
nova realidade, mesmo bem acolhida pelos coleguinhas. “No
caso da inclusão das escolas, ainda falta um ensino especializado. A escola até
que está adaptada, mas o ensino não”,
avalia o pai de Luana, o microempresário Elton da Silva, de 37 anos.
José Carlos Firmino, de 33 anos, morador de Pirapozinho, perdeu a visão desde
bebê e, há três anos na Associação de Cegos, aprende a inserir na
sociedade, com aulas de Braille e com uso da bengala de apoio. “É
difícil ser deficiente, tem de ter muito jogo de cintura. O mundo não está
preparado, mas o deficiente tem de enfrentar e seguir em frente”.
Nelson Borges de Souza, de 36 anos, é instrutor de Braille na entidade para
cegos. Há 11 anos perdeu a visão e, desde então, tenta com os estudos voltar
a trabalhar. “Aqui no interior é muito difícil, as pessoas não são
conscientes de que o deficiente é capaz de fazer trabalhos grandes, como
qualquer um”. Nelson faz o supletivo e sonha, como o colega Luiz, em entrar na
universidade. Quer ser fisioterapeuta ou professor de educação física.
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