Ema Seapini do Amaral, esposa do Delegado Alaor Leite do Amaral, foi
a última moradora do Grande Hotel La Plage, onde ficou cerca de
três anos(desde 1959).
Antes de morar no hotel, dona Ema frequentava as festas do
Grande Hotel La Plage, a praia das Pitangueiras e toda a vida social da
cidade.
Pessoas famosas e a grande sociedade da época faziam da cidade,
a maior Estância Balneária do Estado. Os turistas chegavam
na sexta feira e a alta temporada era de dezembro a janeiro. Enquanto
que os jovéns preferiam o mês de fevereiro, entre eles Roberto
Carlos, Vanderléia e Erasmo Carlos.
Na praia não existia guarda-sol, mas barracões
de madeira com prateleiras que serviam para trocar de roupa, os garçons
do Grande Hotel tinham que levar bebidas, café da manhã e
almoço até a praia.Todos de uniforme, paletó, camisa
engomada e luvas. Os mais jovéns já se arriscavam no surf.
O jogo gerava toda a movimentação da cidade, inclusive lembra
dona Ema, as fichas eram moeda corrente. Com elas , comprava-se de tudo
na padaria, na farmácia, nas lojas e até as gorjetas eram
aceitas com fichas.
O traje a rigor era obrigatório em muitas ocasiões
sociais e a principal loja da cidade- a "La Plage"- acompanhava a moda
ditada na europa.
Era assim a vida na Guarujá pós-cassino e sua emancipaçào
política(1948), reflexo do ciclo de desenvolvimento marcado pela
implantação da Vila Balneária, onde o hotel era o
símbolo mais significativo.
Certamente, a emancipação foi assunto de muitas
rodas nos salões luxuosos do Grande Hotel La Plage.
O DIA-DIA NO HOTEL
As personalidades que frequentavam o Guarujá, marcavam presença
nas colunas sociais dos principais jornais do país. E contribuíram
para o progresso da cidade, inclusive na própria emancipação
política e administrativa.
O cargo de Delegado, exercido por Alaor Amaral, marido de dona
Ema, tinha maior "status" do que atualmente, tanto assim que a casa onde
o casal morava, depois de sair do hotel, era frequentada por pessoas famosas
e da alta sociedade como os Matarazzo, os Stefano, os Maluf, os Figueiredo(o
ex presidente da república) e os Prado. Dona Ema lembra que jogou
muitas vezes baralho com dona Maria Maluf(mãe de Paulo Maluf).
A Guarujá moderna surgiu com os clubes, hotéis e salões
de carteado, como o Jequitimar e o Cassino no centro.
O rei, a rainha e a princesa da Bélgica, inauguraram
o Clube Samambaia(na Península).Era o apogeu do glamour guarujaense.
O mesmo Clube hoje sofre com o desinteresse dos sócios em frequentar
a cidade, causada pela explosão imobiliária da cidade, que
teve início com a Companhia Prado Chaves, que começou o processo
de urbanização e resultou na implantação da
Vila Balneária.
Dona Ema lembra da construção da estrada de ferro:"Foi construida
a muito custo e demorou bastante para ser finalizada. Além do bananal
que dificultava, a estrada foi construida em cima do mangue.Em Vicente
de Carvalho as casas eram de palafitas", mas a ferrovia possibilitou a
vinda de mais turistas para a cidade.
O Delegado Alaor, esposo de Dona Ema, teve uma participação
na História política do país.Quando o presidente Jânio
Quadros renunciou a Presidência da República, ele veio para
o Guarujá e ficou na casa de José Calil, nas Pitangueiras.O
Delegado Alaor e sua equipe, cuidaram da segurança do presidente
e conseguiram tirá-lo do país por Vicente de Carvalho, enquanto
todos achavam que seria pelo atual ferry-boat, driblando assim centenas
de repórteres de todo o país.
Dona Ema é totalmente a favor da reabertura dos cassinos e apóia
a iniciativa do empresário Silvio Santos em fazer um hotel-cassino
no antigo Hotel Jequitimar."Mesmo sabendo que não será a
mesma coisa, pois os tempos mudaram.O jogo pode trazer de novo para o Guarujá
novas possibilidades. Os cassinos geravam empregos e muitos empregados
ficaram bem de vida, além de ressuscitar a vida social da cidade".
É com profundo saudosismo que dona Ema lembra do Grande
Hotel La Plage."Ele era lindo,uma beleza mesmo.Tinha estofados russos e
tapetes persas,lustres de cristais.Era uma obra grandiosa,pena que não
chegou a ser tombada".
O hotel tinha uma arquitetura inspirada nos modelos europeus,estava a altura
dos seus hóspedes.
Entre tantas personalidades, a mais ilustre era simplesmente
Santos Dumont, o inventor do avião, que sempre passava férias
na cidade e hospedava-se no Grande Hotel La Plage.
O "pai da aviação" não escolheu o hotel somente para
passar férias, mas para morrer também. Santos Dumont cometeu
suicídio com a própria gravata no seu quarto de hotel. Ao
contrário de algumas cidades que ficaram famosas pelo nascimento
de pessoas ilustres,Guarujá ganhou destaque pela morte de uma personalidade
mundial.De acordo com dona Ema, o quarto onde o inventor morreu ficava
em cima do ocupado por ela e seu marido.Alguns empregados do hotel achavam
que o quarto era assombrado.
A última moradora do Grande Hotel La Plage,Ema Seapini do Amaral,ainda
guarda em sua casa atual,no centro,móveis e quadros que pertenceram
ao hotel e fizeram parte dos "anos dourados" do Guarujá.