ASSOCIAÇÃO  DOS  DESENHISTAS  BRASILEIROS  SEM  SERVIÇO (ainda nos anos 2000)

 

Destinei-me hoje a falar de Emir Ribeiro, sem dúvida o quadrinheiro brasileiro mais criativo e polêmico de todos os tempos. Adorado por uns e odiado por outros, seja de que lado estiver a pessoa que ler suas HQs, não consegue ficar imparcial ou indiferente, em especial se falarmos da sua mais famosa criação: Velta, a loira gigante de traseiro generoso, há mais de 30 anos lutando por espaços.

 Nas histórias de Velta, a maior reclamação dos bitoladinhos alienados pelo pseudo-moralista quadrinho americano  é o uso de ângulos estrategicamente sensuais, roupas curtas ou apertadas, e nudez parcial ou insinuada. São elementos constantes do imaginário popular brasileiro, e portanto, pertencentes à nossa cultura. E aí está o maior dos acertos de Emir Ribeiro: uma preocupação crônica com o brasileirismo das personagens e das situações criadas. Mesmo tendo iniciado a produção inspirado pela superada Hq americana, Emir foi inteligente o suficiente para fazer diferente, e ter a coragem de se libertar das veadagens  e pudores irreais das Hqs gringas. As soluções visuais e literárias das HQs de Emir refletem uma preocupação em não insultar a inteligência do leitor, mas sim de surpreendê-lo, uma vez que  o perfil desse leitor é o de pessoa adulta, com quase ou mais de 40, maduro, com análise crítica apurada e raciocínio lógico.  Ou seja: são quadrinhos para leitores inteligentes e de mentalidade adulta e definida.
Aqueles moleques sebentos (crescidos ou não)  otários, lobotomizados e alienados  por Marvel e DC são os do grupo da massaroca burra, que fazem beicinho e detestam os quadrinhos do paraibano.

Velta, além de ser um dos melhores exemplos para a Hq nacional, é o carro chefe da pirraça contra a padronização e as baboseiras estrangeiras. Ela faz tudo ao contrário do das “heroínas” gringas. Para começo de conversa, seu alter-ego, a adolescente Kátia, mantém um namoro ardente com Gilberto Gomes, um homem 10 anos mais velho. Na pela da loira gigante, Kátia se solta e se exibe, com roupas que valorizam seus atributos físicos, inclusive pela preferência nacional à parte traseira da anatomia feminina, expondo nosso ideal cultural de beleza.

Não apenas Velta, mas os outros personagens de Emir são dotados de defeitos no caráter que batem de frente contra o politicamente correto. Não que a essência de suas criações seja para afrontar a sociedade, mas sim para mostrar que todas são humanas e possuem falhas reais e diversificadas. Mais um tento contra a padronização.

A robótica Nova, por exemplo, é adepta da pena de morte e não se contém em ser extremamente violenta contra os  inimigos. Já a extra-terrestre Doroti é totalmente amoral,  e não se importa de transar com qualquer dos sexos. O Homem de Preto também não se furta a machucar bastante os bandidos; enquanto o índio Itabira, além de matar o inimigo, ainda o torna sua refeição. São portanto, as criações mais inteligentes do estagnado quadrinho do Brasil. Como poucos conseguem chegar a um resultado destes, resta aos incompetentes apenas o ódio.

Eu sou um sujeito chato, mas principalmente coerente. Afora isso sou também leal às pessoas a quem chamo de amigas, e não admito ser atraiçoado. Também detesto gente falsa, que numa hora lhe elogia e por trás lhe enfia uma faca. Gosto de cobrar das pessoas o mesmo procedimento. Um certo gajo traidor vagabundo - que nem vale a pena dizer o nome - espalhou calúnias a meu respeito pela internet. Acusou-me de criar um blog para destratá-lo. Acusou-me de me aproximar de um grupo de fãs do quadrinheiro Emir Ribeiro com algum interesse escuso. Acusou-me de haver criticado o mesmo Emir Ribeiro, coisa que nunca fiz. E por fim, enredou uma trama que tirou uma página minha do ar, sem que eu tivesse lhe feito qualquer desfeita ou sujeira. O sacripanta agiu por pura molecagem e maldade.
Para contrariar esse vilão da internet, e também por causa de uma tremenda coincidência, resolvi abrir uma seção para falar justamente do injustiçado artista já citado, por quem o safado nutre uma obsessão doentia e um ódio inexplicável.   

A coincidência foi do namorado de minha filha caçula conhecer um amigo que detinha em seu poder diversos e antigos fanzines onde se falava do artista paraibano, em matérias, entrevistas e desenhos. Pedi-lhe para conseguir-me fotocópias, e em seguida, transcrevi alguns trechos e desenhos que possivelmente nem o próprio Emir deve possuir. Portanto, que ele fique à vontade para copiar os textos e desenhos que publicarei a seguir.
  
+ Trecho retirado do fanzine MINI-HQ nº 1 de 1988, numa entrevista dirigida por Antonio Gabriel.

"GABRIEL: Se você fosse um dia convidado para trabalhar para a Marvel, que personagem gostaria de desenhar?
EMIR - Eu preferiria trabalhar em meus próprios personagens. No início, claro, aceitaria desenhar o que eles me incumbissem. Devagarzinho, tentaria impor e lançar meus personagens. Mas se fosse para escolher, iria preferir personagens femininas, pois minha especialidade sempre foi desenhar mulheres."

INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Sem dúvida, Emir Ribeiro ainda era um rapazinho inocente naquela época, e nem fazia idéia de como é fechado aquele círculo de quadrinheiros gringos. Não sabia que sua pretensão jamais seria atingida, vez que os americanos não tem interesse algum por personagens estrangeiros e que não sejam aquele repetitivo metiê deles.

 "GABRIEL: O que pensa a respeito das atuais editoras brasileiras que publicam HQ?
EMIR - Só divulgam trabalhos estrangeiros. Agora, com a pressão de muitos leitores é que começam a aparecer algumas revistas com trabalhos nacionais. São poucas para o potencial que temos, mas já é um começo. O norte-americano é patriota demais. Faz questão em divulgar os produtos, cultura e artes de sua terra. Aqui, os editores só pensam no lucro imediato. Nossa cultura e artes que se danem."

INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Em 18 anos, esta é uma resposta que continua atual. Coitadinho, com uns vinte e poucos anos, ainda tinha esperança de que poderia mudar essa chupação de ovo em cima dos americanos, e que as HQs nacionais teriam mais espaço. O que vemos é exatamente o oposto. O quadro ficou pior e crônico. Os leitores, os editores e os próprios quadrinheiros cada dia estão mais lobotomizados e colonizados pelos gringos. Quanto decepção deve estar sentindo! 

+ Trecho retirado do fanzine REPÓRTER HQ nº 13, de janeiro de 1989. O texto é de Laudo Ferreira Júnior, adaptado de "Artes/Cultura" de novembro de 1988.

"Para quem ainda não a conhece, Velta já possui mais de 15 anos de existência, e já se tornou uma frisson entre os quadrimaníacos, possuindo adoradores pelo Brasil inteiro, inclusive um fã-clube que edita regularmente um fanzine do "Clube da Velta."
Emir, no passar destes 15 anos, editou aventuras de sua loira de várias maneiras, desde fanzines xerocados até mini-revistas, incluindo uma edição especial pela extinta PRESS EDITORIAL.
Seu traço é único, marcante, combinando muito bem todo o sensualismo da personagem com a ficção científica e aventura, e de quebra, um leve toque do bonito estilo "noir" em seus quadrinhos.
Vale a pena conhecer e sentir o profundo carinho que o autor apresenta a seus leitores."

INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Apesar do traço e dos enredos do gajo terem evoluído, Velta é ainda uma desconhecida do grande público. Passarem-se pois mais outros 15 anos, e Velta e o quadrinho brasileiro ainda padece do mesmo mal, sendo que com sintomas mais perversos.

+ Trecho retirado do fanzine PHANZYNE nº 2, de janeiro/fevereiro de 1988, numa entrevista conduzida por Marcelo José Leonardi.

"MARCELO - Qual o futuro, na sua opinião, dos quadrinhos brasileiros?
EMIR - Nem opino mais sobre o futuro. A despeito do que aconteceu no passado, o futuro do quadrinista nacional deverá ser o mesmo: produzir seu trabalho para poucas pessoas lerem, enquanto os americanos comem a maior fatia do mercado. Já deixei de ser otimista quanto a isso. As grande editoras nunca nos darão vez. Fica apenas a esperança vaga por um acontecimento inesperado."

INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Bem se vê que, no interregno entre uma entrevista e outra, o gajo teve uma enorme decepção e se conscientizou que o futuro era negro. Apesar disso, o vemos até hoje, 18 anos depois, ainda lutando e incentivando outros a lutarem para que essa estagnação mude. O homem é um guerreiro. Daqueles que não se entregam mesmo com tudo em seu desfavor. É um bravo que brigará até a última bala, ao contrário dos seus críticos idiotas parasitas, que serão lembrados (SE FOREM  lembrados) como facínoras traidores que são, com os rabos sentadinhos em suas poltronas, protegidos, e sem pregar  um  prego numa barra de sabão. Não sabem o que defender um ideal, ou o que é ter fibra.  

"MARCELO - O quadrinista brasileiro está mais interessado em explorar os gêneros da moda, ou ele tem procurado inovar?
EMIR -
Quem não explora os gêneros da moda não publica. É a crua verdade. As editoras, mesmo pequenas, sempre exploram os modismos estrangeiros. Se tal personagem não se encaixa nesses moldes, acaba engavetado. Veja a excelente BRIGADA DAS SELVAS do Ailton Elias, por exemplo. Um excelente idéia, e original, acima de tudo. E que chance ele tem ? Só conseguiu publicar um número de uma revista em uma pequena editora, que para variar, faliu."

INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Tenho essa Brigada das Selvas e concordo: é ótima. E aqui está mais uma resposta atualíssima. E a situação se agravou. A alienação se massificou a um tal ponto que as pessoas acham normal o colonialismo cultural e idiomático.

+ Trecho retirado do fanzine RISCO TOTAL nº 5, de 1997 (não menciona o mês). O texto é do próprio Emir.
AS HISTÓRIAS ADULTAS DE VELTA - Foi a opção inicial sobre a linha que Velta iria seguir. Tanto que suas primeiras histórias, apesar da repressão da época, seguiam temas adultos, quando os heróis importados os ignoravam por puritanismo ou pela censura do "Código de Ética".
No jornal do colégio, tinha de submeter as páginas para apreciação de uma comissão de professores, para depois afixá-las no jornal. Eu apresentava as páginas amenas (as primeiras" e depois afixava as "apimentadas", onde Velta provocava e exibia sua enorme e redonda bunda. Era um sucesso. A turma levava as páginas para casa, e outras coisa do gênero. Foi necessário pedir um vidro para o jornal mural.
Quando achei uma brecha nos jornais do Estado, daqueles que circulavam por todas as cidades e bancas, tive de repensar os temas adultos, roupas e poses provocantes de Velta. Tanto que as primeiras HQs, de agosto de 1975, recataram a esfuziante loura.
Mas não deu para resistir. Fui gradativamente soltando as amarras. As roupas de Velta foram diminuindo e voltando ao ponto de sua criação.
Um dia, a coisa foi notada. Na história "A quadrilha do caolho", um bandido encurrala a loura de forma que ela não pode disparar suas rajadas. A solução é rápida: Velta desabotoa o cinto e solta a tanga, exibindo sua bunda para o bandido, que fica tão deslumbrado que se descuida o suficiente para ser desarmado. Na segunda-feira estourou a bomba: a Primeira Dama do Estado viu e não gostou. Vieram pedir para maneirar..!
Hoje os tempos são outros, mas Velta prosseguirá se mantendo de acordo com sua proposta inicial, na linha adulta. "

+ Trecho retirado do fanzine CENTHURION nº 3, de dezembro1989/janeiro de 1990, numa entrevista conduzida por Joelmo Machado.
"JOELMO - Qual personagem estrangeiro que você teria vontade de desenhar?
EMIR - Nenhum me interessaria a ponto de querer desenhá-lo. Gosto de Hulk e Batman, mas não os desenharia para qualquer editora, salvo se fosse bem pago para isso."

INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: O gajo é mesmo coerente. Mesmo antes de entrar para o mercado norte-americano, ele, diante de uma pergunta hipotética, disse a mesma coisa que diz hoje, 16 anos depois, e após haver trabalhado para os gringos. Deixou claro que seu trabalho é autoral e não se deslumbrou ou desmunhecou por ter ido desenhar para os gringos. E mesmo assim, trabalhou para os caras, mas não esqueceu seus fãs brasileiros, pois manteve os fanzines em circulação e não parou de editar suas revistas por conta própria, mesmo com periodicidade incerta. É, por conseguinte, motivo de admiração alguém se manter fiel às suas propostas primeiras e não ter virado a casaca por ter ganhado uns dólares.
O trabalho autoral é a independência completa. O artista não está amarrado a estilo algum e nem precisa ter preocupação em ser encaixado neste ou naquele gênero. O gênero é o DELE. Quem gostar, consome, e quem não gostar não o consome. Lastimável que ainda haja imbecis energúmenos querendo que o gajo puritanize sua Velta e a transforme numa freira só porque ela tem super-poderes. E na cabeça dessa ratazada desmiolada, quem tem super-poderes é super-herói, e deve se reger pelo Comics Code dos gringos e ser assexuado. Tamanha e inominável idiotice é esta. E Emir Ribeiro faz muito bem em não dar uma migalha de atenção a essa cambada estúpida.

Para finalizar, a ADBSS-2000 apresenta um material praticamente inédito e possivelmente esquecido até pelo próprio Emir Ribeiro. Entretanto, o velho Bartô aqui sabe de toda a história. Antes do grande cartunista HENFIL nos deixar em consequência da AIDS, Emir Ribeiro prestou-lhe uma homenagem, enviando para o dito cujo uma HQ,  a qual orgulhosamente apresento aqui. Uma HQ que ninguém jamais esperou ler: VELTA,  HENFIL e a tara do famoso cartunista por pés femininos. Clique e curta. Cortesia do velho Bartô Vaz que achou fortuitamente em um fanzine. Morda-se de inveja, Blenq Gonzalez!

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  BARTOLOMEU  VAZ
 
 

ABCDOTECA (TODO O MAPA DA PÁGINA DO BARTOLOMEU VAZ) :

1) HQ NO BRASIL 1  - INDEX
2) HQ NO BRASIL - INDECA
3) BALAIO DE CARTAS - IDIOTECA

4) OUTRAS CARTAS IDIOTAS - BABACATECA
5) CARTAS AINDA MAIS BOBAS - BABAQUARATECA
6) CARTAS DOS HERÓIS USA - BESTALHOTECA
7) QUEM FOI O VULTO MISTERIOSO - VULTO MISTERIOSO
8) E O VULTO FOI RAQUEADO - VULTO RAQUEADO

9) A BOBAGEM HUMANA EXPOSTA - FÓRUM 1
10) MAIS DO FÓRUM DA BITOLAÇÃO - FÓRUM 2
11) QUADRINHEIRO - EMIR RIBEIRO
12) HQ: AOS PÉS DE VELTA  - A SEUS PÉS
13) PITACOS DO BARTÔ 1 - PITACOS 1

14) PITACOS DO BARTÔ 2 - PITACOS 2
15) PITACOS DO BARTÔ 3 - PITACOS 3

16) PITACOS DO BARTÔ 4 - PITACOS 4
17) PITACOS DO BARTÔ 5 - PITACOS 5
18) PITACOS DO BARTÔ 6 - PITACOS 6

19) CADA VEZ PIOR, CADA VEZ PIOR - ALIENAÇÃO EM ALTO GRAU
20) NÃO ESTOU SÓ - 1 - LUIZ MAIA

21) NÃO ESTOU SÓ - 2 - PEDRO CARLOS
22) NÃO ESTOU SÓ - 3 - OGREDSON
23) NÃO ESTOU SÓ - 4 - GEDEONE MALAGOLA

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