ASSOCIAÇÃO DOS DESENHISTAS BRASILEIROS SEM SERVIÇO (ainda nos anos 2000)
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Destinei-me hoje a
falar de Emir Ribeiro, sem dúvida o quadrinheiro brasileiro mais criativo e
polêmico de todos os tempos. Adorado por uns e odiado por outros, seja de que
lado estiver a pessoa que ler suas HQs, não consegue ficar imparcial ou
indiferente, em especial se falarmos da sua mais famosa criação: Velta, a loira
gigante de traseiro generoso, há mais de 30 anos lutando por espaços. |
Eu sou um sujeito chato,
mas principalmente coerente. Afora isso sou também leal às pessoas a quem chamo
de amigas, e não admito ser atraiçoado. Também detesto gente falsa, que numa
hora lhe elogia e por trás lhe enfia uma faca. Gosto de cobrar das pessoas o
mesmo procedimento. Um certo gajo traidor vagabundo - que nem vale a pena dizer
o nome - espalhou calúnias a meu respeito pela internet. Acusou-me de criar um
blog para destratá-lo. Acusou-me de me aproximar de um grupo de fãs do
quadrinheiro Emir Ribeiro com algum interesse escuso. Acusou-me de haver
criticado o mesmo Emir Ribeiro, coisa que nunca fiz. E por fim, enredou uma
trama que tirou uma página minha do ar, sem que eu tivesse lhe feito qualquer
desfeita ou sujeira. O sacripanta agiu por pura molecagem e maldade.
Para contrariar esse vilão da internet, e também por causa de uma tremenda
coincidência, resolvi abrir uma seção para falar justamente do injustiçado
artista já citado, por quem o safado nutre uma obsessão doentia e um ódio
inexplicável.
A coincidência foi do
namorado de minha filha caçula conhecer um amigo que detinha em seu poder
diversos e antigos fanzines onde se falava do artista paraibano, em matérias,
entrevistas e desenhos. Pedi-lhe para conseguir-me fotocópias, e em seguida,
transcrevi alguns trechos e desenhos que possivelmente nem o próprio Emir deve
possuir. Portanto, que ele fique à vontade para copiar os textos e desenhos que
publicarei a seguir.
+ Trecho
retirado do fanzine MINI-HQ nº 1 de 1988, numa entrevista dirigida por Antonio
Gabriel.
"GABRIEL: Se você fosse um dia convidado para trabalhar para a Marvel, que
personagem gostaria de desenhar?
EMIR - Eu preferiria trabalhar em meus próprios personagens. No início, claro,
aceitaria desenhar o que eles me incumbissem. Devagarzinho, tentaria impor e
lançar meus personagens. Mas se fosse para escolher, iria preferir personagens
femininas, pois minha especialidade sempre foi desenhar mulheres."
INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Sem dúvida, Emir Ribeiro ainda era um rapazinho inocente
naquela época, e nem fazia idéia de como é fechado aquele círculo de
quadrinheiros gringos. Não sabia que sua pretensão jamais seria atingida, vez
que os americanos não tem interesse algum por personagens estrangeiros e que não
sejam aquele repetitivo metiê deles.
"GABRIEL:
O que pensa a respeito das atuais editoras brasileiras que publicam HQ?
EMIR - Só divulgam trabalhos estrangeiros. Agora, com a pressão de muitos
leitores é que começam a aparecer algumas revistas com trabalhos nacionais. São
poucas para o potencial que temos, mas já é um começo. O norte-americano é
patriota demais. Faz questão em divulgar os produtos, cultura e artes de sua
terra. Aqui, os editores só pensam no lucro imediato. Nossa cultura e artes que
se danem."
INSERÇÃO DO
BARTOLOMEU: Em 18 anos, esta é uma resposta que continua atual. Coitadinho, com
uns vinte e poucos anos, ainda tinha esperança de que poderia mudar essa
chupação de ovo em cima dos americanos, e que as HQs nacionais teriam mais
espaço. O que vemos é exatamente o
oposto. O quadro ficou pior e
crônico. Os leitores, os editores e os próprios quadrinheiros cada dia estão
mais lobotomizados e colonizados pelos gringos. Quanto decepção deve estar
sentindo!
+
Trecho
retirado do fanzine REPÓRTER HQ nº 13, de janeiro de 1989. O texto é de Laudo
Ferreira Júnior, adaptado de "Artes/Cultura" de novembro de 1988.
"Para quem ainda não a conhece, Velta já possui mais de 15 anos de existência, e
já se tornou uma frisson entre os quadrimaníacos, possuindo adoradores pelo
Brasil inteiro, inclusive um fã-clube que edita regularmente um fanzine do
"Clube da Velta."
Emir, no passar destes 15 anos, editou aventuras de sua loira de várias
maneiras, desde fanzines xerocados até mini-revistas, incluindo uma edição
especial pela extinta PRESS EDITORIAL.
Seu traço é único, marcante, combinando muito bem todo o sensualismo da
personagem com a ficção científica e aventura, e de quebra, um leve toque do
bonito estilo "noir" em seus quadrinhos.
Vale a pena conhecer e sentir o profundo carinho que o autor apresenta a seus
leitores."
INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: Apesar do traço e dos enredos do gajo terem evoluído, Velta é ainda uma desconhecida do grande público. Passarem-se pois mais outros 15 anos, e Velta e o quadrinho brasileiro ainda padece do mesmo mal, sendo que com sintomas mais perversos.
+ Trecho retirado do fanzine PHANZYNE nº 2, de janeiro/fevereiro de 1988, numa entrevista conduzida por Marcelo José Leonardi.
"MARCELO - Qual o futuro, na sua opinião, dos
quadrinhos brasileiros?
EMIR - Nem opino mais sobre o futuro. A despeito do que aconteceu no passado, o
futuro do quadrinista nacional deverá ser o mesmo: produzir seu trabalho para
poucas pessoas lerem, enquanto os americanos comem a maior fatia do mercado. Já
deixei de ser otimista quanto a isso. As grande editoras nunca nos darão vez.
Fica apenas a esperança vaga por um acontecimento inesperado."
INSERÇÃO DO
BARTOLOMEU: Bem se vê que, no interregno entre uma entrevista e outra, o gajo
teve uma enorme decepção e se conscientizou que o futuro era negro. Apesar
disso, o vemos até hoje, 18 anos depois, ainda lutando e incentivando outros a
lutarem para que essa estagnação mude. O homem é um guerreiro. Daqueles que não
se entregam mesmo com tudo em seu desfavor. É um bravo que brigará até a última
bala, ao contrário dos seus críticos idiotas parasitas, que serão lembrados (SE
FOREM lembrados) como facínoras traidores que são, com os rabos
sentadinhos em suas poltronas, protegidos, e sem pregar um prego
numa barra de sabão. Não sabem o que defender um ideal, ou o que é ter fibra.
"MARCELO - O quadrinista brasileiro está mais
interessado em explorar os gêneros da moda, ou ele tem procurado inovar?
EMIR - Quem não explora os gêneros da
moda não publica. É a crua verdade. As editoras, mesmo pequenas, sempre exploram
os modismos estrangeiros. Se tal personagem não se encaixa nesses moldes, acaba
engavetado. Veja a excelente BRIGADA DAS SELVAS do Ailton Elias, por exemplo. Um
excelente idéia, e original, acima de tudo. E que chance ele tem ? Só conseguiu
publicar um número de uma revista em uma pequena editora, que para variar,
faliu."
INSERÇÃO DO
BARTOLOMEU: Tenho essa Brigada das Selvas e concordo: é ótima. E aqui está mais
uma resposta atualíssima. E a situação se agravou. A alienação se massificou a
um tal ponto que as pessoas acham normal o colonialismo cultural e idiomático.
+
Trecho
retirado do fanzine RISCO TOTAL nº 5, de 1997 (não menciona o mês). O texto é do
próprio Emir.
AS HISTÓRIAS ADULTAS DE VELTA - Foi a opção inicial sobre a linha que Velta iria
seguir. Tanto que suas primeiras histórias, apesar da repressão da época,
seguiam temas adultos, quando os heróis importados os ignoravam por puritanismo
ou pela censura do "Código de Ética".
No jornal do colégio, tinha de submeter as páginas para apreciação de uma
comissão de professores, para depois afixá-las no jornal. Eu apresentava as
páginas amenas (as primeiras" e depois afixava as "apimentadas", onde Velta
provocava e exibia sua enorme e redonda bunda. Era um sucesso. A turma levava as
páginas para casa, e outras coisa do gênero. Foi necessário pedir um vidro para
o jornal mural.
Quando achei uma brecha nos jornais do Estado, daqueles que circulavam por todas
as cidades e bancas, tive de repensar os temas adultos, roupas e poses
provocantes de Velta. Tanto que as primeiras HQs, de agosto de 1975, recataram a
esfuziante loura.
Mas não deu para resistir. Fui gradativamente soltando as amarras. As roupas de
Velta foram diminuindo e voltando ao ponto de sua criação.
Um dia, a coisa foi notada. Na história "A quadrilha do caolho", um bandido
encurrala a loura de forma que ela não pode disparar suas rajadas. A solução é
rápida: Velta desabotoa o cinto e solta a tanga, exibindo sua bunda para o
bandido, que fica tão deslumbrado que se descuida o suficiente para ser
desarmado. Na segunda-feira estourou a bomba: a Primeira Dama do Estado viu e
não gostou. Vieram pedir para maneirar..!
Hoje os tempos são outros, mas Velta prosseguirá se mantendo de acordo com sua
proposta inicial, na linha adulta. "
+
Trecho
retirado do fanzine CENTHURION nº 3, de dezembro1989/janeiro de 1990, numa
entrevista conduzida por Joelmo Machado.
"JOELMO - Qual personagem estrangeiro que você teria vontade de desenhar?
EMIR - Nenhum me interessaria a ponto de querer desenhá-lo. Gosto de Hulk e
Batman, mas não os desenharia para qualquer editora, salvo se fosse bem pago
para isso."
INSERÇÃO DO BARTOLOMEU: O gajo é
mesmo coerente. Mesmo antes de entrar para o mercado norte-americano, ele,
diante de uma pergunta hipotética, disse a mesma coisa que diz hoje, 16 anos
depois, e após haver trabalhado para os gringos. Deixou claro que seu trabalho é
autoral e não se deslumbrou ou desmunhecou por ter ido desenhar para os gringos.
E mesmo assim, trabalhou para os caras, mas não esqueceu seus fãs brasileiros,
pois manteve os fanzines em circulação e não parou de editar suas revistas por
conta própria, mesmo com periodicidade incerta. É, por conseguinte, motivo de
admiração alguém se manter fiel às suas propostas primeiras e não ter virado a
casaca por ter ganhado uns dólares.
O trabalho autoral é a independência completa. O artista não está amarrado a
estilo algum e nem precisa ter preocupação em ser encaixado neste ou naquele
gênero. O gênero é o DELE. Quem gostar, consome, e quem não gostar não o
consome. Lastimável que ainda haja imbecis energúmenos querendo que o gajo
puritanize sua Velta e a transforme numa freira só porque ela tem super-poderes.
E na cabeça dessa ratazada desmiolada, quem tem super-poderes é super-herói, e
deve se reger pelo Comics Code dos gringos e ser assexuado. Tamanha e inominável
idiotice é esta. E Emir Ribeiro faz muito bem em não dar uma migalha de atenção
a essa cambada estúpida.
Para finalizar, a ADBSS-2000 apresenta um material praticamente inédito e possivelmente esquecido até pelo próprio Emir Ribeiro. Entretanto, o velho Bartô aqui sabe de toda a história. Antes do grande cartunista HENFIL nos deixar em consequência da AIDS, Emir Ribeiro prestou-lhe uma homenagem, enviando para o dito cujo uma HQ, a qual orgulhosamente apresento aqui. Uma HQ que ninguém jamais esperou ler: VELTA, HENFIL e a tara do famoso cartunista por pés femininos. Clique e curta. Cortesia do velho Bartô Vaz que achou fortuitamente em um fanzine. Morda-se de inveja, Blenq Gonzalez!
[email protected]
BARTOLOMEU
VAZ
ABCDOTECA
(TODO O MAPA DA PÁGINA DO BARTOLOMEU VAZ) :
1) HQ NO BRASIL 1 -
INDEX
2) HQ NO BRASIL -
INDECA
3) BALAIO DE CARTAS -
IDIOTECA
4) OUTRAS CARTAS IDIOTAS -
BABACATECA
5) CARTAS AINDA MAIS BOBAS -
BABAQUARATECA
6) CARTAS DOS HERÓIS USA -
BESTALHOTECA
7) QUEM FOI O VULTO MISTERIOSO -
VULTO MISTERIOSO
8) E O VULTO FOI RAQUEADO -
VULTO
RAQUEADO
9) A BOBAGEM HUMANA EXPOSTA -
FÓRUM 1
10) MAIS DO FÓRUM DA BITOLAÇÃO -
FÓRUM 2
11) QUADRINHEIRO -
EMIR RIBEIRO
12) HQ: AOS PÉS DE VELTA -
A SEUS PÉS
13) PITACOS DO BARTÔ 1 -
PITACOS 1
14) PITACOS DO BARTÔ 2 -
PITACOS 2
15) PITACOS DO BARTÔ 3 -
PITACOS 3
16) PITACOS DO BARTÔ 4 -
PITACOS 4
17) PITACOS DO BARTÔ 5 -
PITACOS 5
18) PITACOS DO BARTÔ 6 -
PITACOS 6
19) CADA VEZ PIOR, CADA VEZ PIOR -
ALIENAÇÃO EM
ALTO GRAU
20) NÃO ESTOU SÓ - 1 -
LUIZ MAIA
21) NÃO ESTOU SÓ - 2 -
PEDRO CARLOS
22) NÃO ESTOU SÓ - 3 -
OGREDSON
23) NÃO ESTOU SÓ - 4 -
GEDEONE
MALAGOLA